A crise no setor leiteiro, o maior do país, tem levado produtores mineiros a um estado de alerta. Com uma produção anual de 9,4 bilhões de litros, Minas Gerais enfrenta um cenário desafiador, marcado pelo aumento das importações e preços de produção insuficientes para cobrir os custos.
Para chamar a atenção para essa situação crítica, a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) lançou o movimento “Minas grita pelo leite”. O aumento de 68,8% nas importações, totalizando 2,2 bilhões de litros no último ano, é um dos principais pontos de preocupação.
A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) destaca que o preço médio pago aos produtores, frequentemente abaixo de R$ 1,80 por litro, não cobre os custos de produção, que variam entre R$ 1,80 e R$ 2,25 por litro, dependendo da região.
A competição externa, especialmente da Argentina e do Uruguai, impulsionada por subsídios governamentais, desestabiliza o mercado interno, resultando em uma queda nos preços aos produtores. Essa situação tem desencorajado muitos produtores, levando à redução do número de vacas ou ao abandono da atividade.
O leite importado, especialmente da Argentina, chega ao Brasil a preços mais baixos, em parte devido a subsídios concedidos pelo governo argentino. A logística mais barata e a produtividade superior também contribuem para a competitividade do leite estrangeiro.
O movimento liderado pela Faemg ganhou força com um evento em Belo Horizonte, reunindo cerca de 7 mil produtores mineiros, e resultou na assinatura de um manifesto reivindicando medidas de apoio do governo federal.
A crise atual destaca a necessidade de políticas mais assertivas para o setor leiteiro nacional, incluindo prorrogação de dívidas de crédito rural e criação de linhas de financiamento específicas. A retirada das empresas importadoras de leite em pó do Regime Especial de Tributação em Minas Gerais também é vista como um passo importante para equilibrar o mercado.
Os produtores brasileiros enfrentam não apenas a volatilidade dos preços internacionais, mas também a necessidade de modernização e maior eficiência na estrutura produtiva. Comparados a outros países do Mercosul, onde a produtividade é mais alta, torna-se evidente a urgência de revisar práticas e políticas voltadas para o setor.
Apesar da expectativa de uma ligeira recuperação nos preços em 2024, conforme apontado pela Central de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa, a continuidade das importações em volumes elevados representa uma ameaça à recuperação sustentável do setor leiteiro brasileiro.