Em um vídeo apreendido pela Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro é flagrado instigando ministros a agir antes das eleições de 2022 para evitar que o Brasil se transforme em uma “grande guerrilha”. A gravação faz parte de uma reunião da alta cúpula do governo realizada em 5 de julho de 2022, e foi divulgada pela jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, com acesso também pela jornalista Andréia Sadi, do g1 e da GloboNews.
O vídeo, encontrado no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi parte das evidências que embasaram a operação da PF contra militares e ex-ministros suspeitos de participarem de uma tentativa de golpe de Estado. Cid colaborou com a PF por meio de uma delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Na reunião, Bolsonaro teria ordenado a disseminação de informações fraudulentas para tentar reverter a situação na disputa eleitoral. O ex-presidente argumentou que, se a reação ocorresse após as eleições, haveria caos e uma “grande guerrilha” no Brasil.
É importante ressaltar que as alegações de fraudes eleitorais feitas por Bolsonaro ao longo de seu mandato foram refutadas, sendo a lisura do processo eleitoral reafirmada por autoridades nacionais e internacionais. Em outro trecho da reunião, Bolsonaro propôs a redação de um documento que questionasse a lisura das eleições, envolvendo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e outros elementos externos.
O vídeo revela ainda Bolsonaro citando os ministros do STF Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, acusando-os de estarem preparando o caminho para a vitória de Lula no primeiro turno. O ex-presidente questionou a imparcialidade desses ministros e criticou a participação das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições, afirmando que foi um erro.
A descrição detalhada da reunião ocupou mais de 10 páginas na decisão assinada por Alexandre de Moraes, que resultou na operação Tempus Veritatus. A operação envolveu 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva. O vídeo revela também o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, defendendo que o governo “virasse a mesa” antes das eleições para garantir a reeleição de Bolsonaro.
A participação de outros convidados na reunião é descrita no relatório da PF, mas até o momento, apenas vídeos das falas de Jair Bolsonaro foram divulgados. A operação Tempus Veritatus visou ministros e figuras próximas a Bolsonaro, como Braga Netto e Augusto Heleno, e apontou para a existência de um núcleo que buscava organizar uma tentativa de golpe de Estado.